11 de dezembro de 2011

Apresentação do Plano Popular de Desenvolvimento Urbano, Econômico e Social da Vila Autódromo

A COMUNIDADE DE MORADORES E PESCADORES DA VILA AUTÓDROMO, através de sua ASSOCIAÇÃO, convida a todos os participantes dos Movimentos Sociais, companheiros de outras Associação de Moradores e os demais aliados na luta pelo direito à cidade, para uma ASSEMBLEIA POPULAR no domingo, dia 18 de dezembro, às 15:00h, na sede da Associação, com a seguinte programação:

1. Apresentação do Plano Popular de Desenvolvimento Urbano, Econômico e Social da Vila Autódromo – Versão Preliminar, elaborado pela Comunidade com assessoria técnica do ETTERN/IPPUR/UFRJ e do NEPHU/UFF,

2. Discussão em oficinas temáticas;

3. Apresentação dos relatos das discussões de grupo

4. Propostas, discussões e aprovação do Plano

Antes, durante e após a Assembléia haverá atividades culturais: música, poesia, exposições de vídeos e fotografias.

VENHAM TROCAR EXPERIÊNCIAS E SABERES! VAMOS FORTALECER NOSSAS LUTAS! PELO DIREITO À CIDADE, PELO DIREITO À CIDADANIA!

ESTE É O NOSSO PLANO PARTICIPE – DISCUTA - DECIDA

LUTAR PARA PLANEJAR, PLANEJAR PARA LUTAR

3 de dezembro de 2011

Vila Autódromo e o Núcleo de Planejamento Conflitual

Plano Popular da Vila Autódromo

Os moradores da Vila Autódromo, por meio da Associação de Moradores de seu bairro, convidaram o Núcleo Experimental de Planejamento Conflitual para apoiar o Plano Popular da Vila Autódromo. A aliança entre a Associação de Moradores e a Universidade existe há algum tempo, hoje essa cooperação prossegue também no Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas.

Esta é uma comunidade unida e organizada que, através das mobilizações coletivas, realizou várias conquistas durante os 40 anos de existência do bairro. A comunidade da Vila Autódromo também acumula um histórico de resistência às tentativas de remoção arbitrária por parte da Prefeitura do Rio de Janeiro.

O Plano Popular da Vila Autódromo tem como desafio a elaboração e implementação de uma proposta de urbanização orientada pelos saberes que a população desenvolve a partir do seu dia a dia sobre o transporte público, meio ambiente, saneamento, moradia e trabalho, dentre outros. É da troca de experiências e conhecimentos que serão realizados os programas e projetos que integrarão o Plano Popular de Urbanização da Vila Autódromo.

É a comunidade da Vila Autódromo que decide e estabelece as prioridades!

Nosso Plano Popular da Vila Autódromo é composto por um Plano de Desenvolvimento Urbano, um Plano de Desenvolvimento Econômico e Social e o Plano de Luta da comunidade.

Na perspectiva de construir a autonomia popular e a preparação da comunidade para definir seus próprios destinos, vamos

lutar para planejar e planejar para lutar!

NUCLEO EXPERIMENTAL DE PLANEJAMENTO CONFLITUAL

(Laboratório Estado, Trabalho, Território e Natureza - IPPUR/UFRJ e Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos - NEPHU/UFF).

20 de outubro de 2011

A bola da vez: Vila Autódromo

Dar como certo algo duvidoso é uma estratégia conhecida para resolver uma questão sem mesmo problematizá-la. É o que o jornal O Globo tenta fazer em sua reportagem de capa desta terça, 04/10, sobre a possibilidade de remoção da Vila Autódromo, comunidade situada em área próxima ao futuro Parque Olímpico, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Após indicar sem qualquer motivo que seus moradores estavam praticando assaltos na fila de entrada do Rock in Rio, o jornal agora destaca na manchete: “Após o rock, Rio removerá favela para as Olimpíadas”, e na página 12: “Vila Autódromo na reta final”.

A certeza do jornalista Luiz Ernesto Magalhães estaria baseada na minuta do edital da parceria público-privada (PPP). Lançado pela prefeitura para consulta pública, a cláusula quinta trata da localização do Parque Olímpico e determina a “desocupação da totalidade da área atualmente ocupada pela comunidade denominada Vila Autódromo”. No entanto, a própria reportagem admite que essa questão é muito cara aos movimentos sociais, que vêem o local como um símbolo da resistência contra as remoções em toda a cidade.

O edital da PPP prevê que 75% dos 1,2 milhão de metros quadrados sejam entregues a iniciativa privada após os Jogos Olímpicos, para a construção de condomínios residenciais, comerciais e hotéis. Um repasse de terreno público com a justificativa de que o consórcio de empreiteiras arcaria com parte dos custos de construção do Parque Olímpico, estimados em R$ 1,3 bilhão. Cabe lembrar que só a Transcarioca (uma das três vias expressas que estão sendo construídas) supera esse valor, pra ficar apenas em uma das obras para os grandes eventos.

O fato é que a Prefeitura do Rio não precisa da iniciativa privada para viabilizar a obra. Optando por deixar como legado à cidade um bairro de elite, o que já é uma opção questionável, seria mais lógico investir recursos próprios na região e vender os lotes valorizados às construtoras após 2016. No entanto, o prefeito Eduardo Paes opta por garantir o acesso aos terrenos por contrato e a baixo custo já em 2011, o que lhe garante o apoio financeiro das empreiteiras à sua campanha à reeleição ano que vem. Para o Rio restará um novo bairro de elite, viabilizado com terrenos públicos, à beira da Lagoa de Jacarepaguá.

Não é de hoje que a prefeitura quer deixar a região livre para a expansão imobiliária. A Vila Autódromo, uma antiga colônia de pescadores que com o tempo se transformou em moradia para muitos dos trabalhadores que construíram a Barra da Tijuca, sofreu em primeiro lugar com o impacto do crescimento da cidade para a Zona Oeste e a consequente poluição do ambiente natural de que tirava o seu sustento. Chega a ser previsível que um governo que preza pela homogenização dos espaços da cidade, sem considerar a população local, queira agora a remoção. Para Paes, é inadmissível valorizar uma área ocupada por moradores de baixa renda, mesmo que eles possuam o título de posse, como é o caso.

Altair Antunes Guimarães, de 55 anos, é o presidente da associação de moradores da Vila Autódromo. Ele vivia na Ilha dos Caiçaras, na Lagoa Rodrigo de Freitas, quando este mesmo processo de remoção de comunidades aconteceu na Zona Sul, nas décadas de 60 e 70. Expulso de casa, acabou sendo levado com a sua família para a Cidade de Deus, aos 14 anos. De lá foi removido mais uma vez para a passagem da Linha Amarela no mandato de Luiz Paulo Conde (1997-2000), quando então se mudou para a Vila Autódromo. Agora, enfrenta a terceira remoção em quatro décadas: “O sentimento é que você está sempre incomodando, tendo que dar espaço”.
A Prefeitura do Rio e o Globo sabem que a remoção da Vila Autódromo não será fácil como a manchete de capa e a imagem da reportagem, as partes mais vistas do jornal, querem dar a entender. A resistência do Canal do Anil em 2007, comunidade próxima à Vila do Pan-Americano e que também esteve na mira das máquinas da prefeitura, ainda está fresca na memória de todos. Se a Vila Autódromo hoje é considerada uma favela é porque a própria prefeitura nunca assumiu a sua urbanização. Esta luta está apenas começando, não é a primeira e nem será a última. Altair terá muito apoio para, após duas derrotas, enfim comemorar a sua primeira vitória. O futuro dirá.

Fonte: http://www.cidadespossiveis.com/post/11035675846/a-bola-da-vez-vila-autodromo

3 de março de 2011

A bomba atônita

A bomba atônita

Acordo cedo e passeio a cidade rumo ao lugar onde morei por tantos anos e há tantos, só retorno nos dias de eleição. Voto em um colégio perto do Cemitério. O contraste que se estabelecia entre a cidade dos vivos, com suas palavras, seus gestos, seus pensamentos e a necrópole silenciosamente ensolarada e suas áleas de alamandras, sempre foi o que mais me chamava atenção nos dias de eleição. O contraste que todos os dias percebemos se exaltava com as discussões intermináveis, as bandeiras de todas as verdades e as verdades de todas as bandeiras. Discordávamos sempre, mas sempre vivíamos o calor das conversas sobre o futuro e nossos sonhos de futuro. Não era a chamada festa democrática que nos encantava, mas estarmos prontos e renovados para lutar por nossos ideais e convicções. Buscávamos um mundo melhor. O conceito de melhor variava de pessoa para pessoa, de grupo para grupo, de ideais para ideais, mas éramos convictos da importância da nossa participação como pessoas individuais e coletivas nos caminhos que inevitavelmente se nos atravessavam. A cidade era a cidade das opiniões. Não havia bebidas nos bares; nossos ânimos eram controlados pelas burocracias e pela polícia espalhada pelas ruas das cidades. Éramos a sociedade em movimento, pulsando convicções de todo destino e desejo, de toda vontade e futuro, movimentando-se.

Acordo cedo, caminho a cidade abandonada, sou um documento com foto e um desânimo caminha ao meu lado. Buscamos solitária e desmotivadamente um menos pior entre os iguais que se apresentam. São seres de um cemitério de idéias mortas, silenciados pela homogeneidade de um discurso igual, sempre igual, que brota de nossas telas coloridas com seus sorrisos falsos e suas mentiras sempre verdadeiras.

O primeiro turno se encerra em um domingo amorfo, os bares abertos, não se vê polícia na cidade. Um povo amansado já não discute badernas. O lanche de domingo se dá em silêncio. Na TV os resultados revelados tão velozmente que já o sabíamos antes do voto. Voto errado. O número errado me dá talvez a sobrevida que preciso para escapar do colégio cemitério em que me encontro. Os espelhos revelam sempre o mesmo rosto da cidade adormecida. Meus livros me trazem a realidade. Minhas revoluções então se estabelecem até que debruçado e cansado, adormeço. Sonho a praça cheia que não há. As ruas são suas verdades amordaçadas e cobertas por tapumes de plástico. Sonho as discussões vermelhas e seus corações em luta. Acordo segunda, sem comentários, os jornais repetem os rostos transparentes. Rumo ao trabalho, meu carro luz pela cidade e suas misérias permanentes. As várias estações repetem-me as transparências dos rostos idênticos. A universidade calada finge que nada acontece enquanto nada deveras acontece. Somos a espera do segundo turno e seus debates acalorados. Eles não vêm. Somos a espera das discussões inexistentes, das idéias nunca, de um Brasil desesperado. Nada se espera. Nada acontece e nos perguntamos até quando?

As semanas passam e os números são a curiosidade dos números. Mais nos importamos com a precisão das estatísticas do que com os destinos que se bifurcam. Os destinos, já sabemos há muito, não mais se bifurcam por aqui. Os cemitérios tomam conta da cidade, as balas voam e os destinos se amedrontam, deuses existem e inexistem sem modificar os acontecimentos. As vozes se calam, ouço murmurinhos pelos corredores, são grupos de interesse, apolíticos, concorrendo a editais e patrocínios. Imperceptíveis, se reúnem nas necrópoles universitárias, de onde assinam listas vazias, com suas tintas invisíveis e suas idéias nenhumas. Nada acontece e nos perguntamos até quando?

Domingo, os mortos nos esperam pacientemente na terça feira. Estaremos mortos perfilados, diante da urna eletrônica, infalível artefato de verdades e costumes. Confirmo, número errado outra vez. Irresponsável!, gritam-me no silêncio do mundo, seus robôs desesperados. Não percebes, dizem, as diferenças entre as texturas do nada, não vês o muro do cemitério. Sobe, ordenam, mas não escuto voz alguma. A cidade vive seu mais intenso racionamento de idéias. O presidente está sendo escolhido, mas não se percebe movimentos. À noite os resultados gritarão seus números e as discussões sobre as estatísticas das previsões se repetirão. Os números repetem seus desânimos. Dormiremos cedo, pois os mortos ainda nos esperam para terça feira. Os bares abertos vazios pela ausência do futebol. Nada acontece e nos perguntamos até quando?

Um clarão ao longe se revela intenso. Serei eu, inconformado com meus delírios revolucionários? Não, estou calmo, amordaçado em meu carro blindado, cortando a cidade com seus reflexos no asfalto que a chuva fina molha. Um clarão ao longe de fato se avizinha. Ninguém o vê, ninguém mais acredita. Uma bomba ecoa pelos horizontes. Permaneceremos os mesmos? Abro-me atento aos ruídos da memória, nada acontece. Sou eu e meus delírios que vislumbram esse clarão imenso. Fecho meus olhos, o brilho intenso permanece. Há muito tempo detonada, é a bomba atônita que se alastra pela cidade adormecida.
*Ricardo Kubrusly

Poeta, Matemático, Professor da UFRJ

Fonte: http://coletivomarxista.blogspot.com/

1 de março de 2011

Remoção da Vila Autódromo, no Rio: não existe outra alternativa?

Na última quarta-feira, a juíza Cristina Aparecida de Souza Santos emitiu sentença na qual determina a remoção de parte da comunidade da Vila Autódromo, situada próxima à lagoa de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Com a justificativa de fazer cumprir a legislação ambiental, a Justiça do Rio pode estar ajudando a produzir novas ocupações em áreas de risco e de preservação.
Os problemas da Vila Autódromo poderiam ser resolvidos com a implementação de um projeto urbanístico que eliminasse a situação de risco e vulnerabilidade e melhorasse as condições ambientais da comunidade e de todo o seu entorno. Em vez disso, a Justiça autoriza as remoções, sem compromisso com uma solução habitacional que respeite o direito à moradia adequada da população que será atingida.
Desde os Jogos Panamericanos a comunidade da Vila Autódromo vem resistindo às ameaças de remoção. O fato é que ela está localizada na área onde será implantado o projeto olímpico, assim como ações de urbanização e reestruturação imobiliária. Para os interesses empresarias envolvidos na construção e remodelamento da região, as comunidades precisam ser removidas porque elas representam um empecilho à “limpeza” da área. E a prefeitura absorve e adota essa posição como diretriz ao afirmar que essas comunidades têm que ser removidas e não urbanizadas.
O pior de tudo é que não há debate público sobre o assunto. O projeto Olímpico, assim como o da Copa, não está sendo objeto de discussão pela sociedade. Assim, outras possibilidades de projetos, inclusive aqueles que contemplariam a urbanização dessas áreas, não puderam ser elaborados, nem expostos, nem muito menos debatidos ou levados em consideração. É de um extremo autoritarismo fechar todos os projetos para as Olimpíadas e a Copa sem nenhum debate público, com interlocução do governo apenas com o setor empresarial.

Fonte: http://raquelrolnik.wordpress.com/

17 de janeiro de 2011

Vila Autódromo reafirma vontade de ficar

Em reunião com prefeito do Rio, moradores recusaram a proposta apresentada pela prefeitura, e propõem projeto alternativo que concilie a permanência com os Jogos Olímpicos.

Por Sheila Jacob

A comunidade da Vila Autódromo, localizada na Barra da Tijuca, zona nobre do Rio, vem se mobilizando desde o ano passado para garantir sua permanência. O fato é que o projeto para as Olimpíadas de 2016 prevê a saída das famílias do local, onde está prevista a construção do Centro de Mídia e do Centro Olímpico de Treinamento. Desde o anúncio da retirada, feito pelo Prefeito do Rio Eduardo Paes (PMDB/RJ) em entrevistas coletivas, os moradores têm manifestado a vontade de permanecer em suas casas nas assembléias realizadas na comunidade organizadas pela Associação de Moradores – das quais já participaram mais de mil pessoas.

Para conversar sobre o caso específico da Vila Autódromo, foi realizada uma reunião nesta quarta-feira, 3 de março, às 17h, na sede da Prefeitura do Rio. Além do próprio prefeito e do Secretário Municipal de Habitação, Jorge Bittar (PT/RJ), estiveram presentes lideranças e moradores da Vila Autódromo, defensores públicos do Estado do Rio, e representantes da Federação das Associações de Moradores do Estado do Rio (FAFERJ) e do Movimento Nacional de Luta pela Moradia.

Na abertura da reunião, o prefeito garantiu não tomar nenhuma medida sem dialogar antes com os moradores da comunidade, e disse ainda ter a esperança de que as Olimpíadas signifiquem uma transformação social e melhorias concretas para toda a cidade, como a urbanização de favelas. No caso da Vila Autódromo, ele propôs uma indenização ou então o reassentamento das famílias, ou seja, a mudança para localidades próximas de onde estão suas residências atualmente.

O presidente da Associação de Moradores, Altair Guimarães, e outros moradores da comunidade presentes recusaram a proposta do prefeito, fazendo ecoar as vozes de outras pessoas que não querem deixar suas casas nem sua história de vida. “Eu vim aqui com a esperança de que os Jogos aconteceriam onde a comunidade está, hoje. Entendo o que o senhor oferece, mas sei que não é isso que a comunidade quer”, disse Altair ao prefeito. Jane Nascimento, também da Associação, disse considerar a proposta “um desrespeito”, e defendeu a urbanização da comunidade, o que melhoraria muito a imagem da cidade frente à opinião internacional.


Prefeito assume que houve erro na construção do projeto


Como ressaltou o advogado Alexandre Mendes, do Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria do Estado do Rio, um grande problema é o fato de o projeto ter sido elaborado sem consulta prévia aos moradores da comunidade. Segundo ele, essa constatação permite que haja uma revisão do projeto por parte do Comitê Olímpico Internacional (COI). O próprio prefeito assumiu haver um “erro na origem”, e disse estar aberto a outras propostas.

Frente a isso, a defensora pública Maria Lúcia Pontes solicitou o projeto oficial aprovado pelo COI para ser analisado e discutido. A ideia é construir, juntamente com outros movimentos e entidades parceiras, uma contra-proposta, que “evidentemente será feita para que a comunidade permaneça”, como destacou a advogada. Esse projeto alternativo será apresentado na próxima reunião com o Prefeito – com indicativo para ser realizada no início de abril. Ela disse que a luta da Defensoria e dos moradores é não repetir o que acontece nos outros países, quando “os pobres são excluídos da cidade” para que eventos de grande porte como esse aconteçam.

Fonte NPC - Núcleo Piratininga de Comunicação